quarta-feira, 29 de maio de 2019

Orca branca é fotografada no Japão


E quem deu uma passeadinha esse mês pelas águas japonesas foi a Orca branca Iceberg. O raro avistamento ocorreu no Estreito de Nemuro, em Rausu, na parte nordeste da província de Hokkaido, ao norte do país, por um membro de um grupo de pesquisas japonês.
De acordo com o University Alliance for Hokkaido Orca Research Project (Uni-HORP), é muito raro encontrar uma Orca branca perto do Japão, e foi a primeira vez que um pesquisador japonês conseguiu efetuar o registro.
O Estreito de Nemuro está localizado entre a cidade de Rausu, na Península de Shiretoko, designada como Patrimônio Mundial Natural da UNESCO, e a Ilha de Kunashiri, uma das quatro ilhas disputadas que compreendem os Territórios do Norte efetivamente controlados pela Rússia.
O encontro ocorreu no último dia 16 e a Orca estava com um pod de dez indivíduos. Foi um professor da Universidade Tokai, Hiroshi Oizumi, especializado em mamíferos marinhos, que conseguiu a imagem. Ele, juntamente aos demais pesquisadores, estava num navio fretado pelo próprio grupo a cerca de 5 km de distância dos animais.
Foi Yoko Mitani, professor de um Centro de Ciência da Universidade de Hokkaido, que identificou a orca branca como sendo a já conhecida "Iceberg".






P.S.: Há mais sobre Orcas brancas aqui no blog. Pesquise no campo ao lado para saber mais.



terça-feira, 28 de maio de 2019

SeaWorld divulga causa da morte da Orca Kayla

Kayla, Orca de 30 anos do SeaWorld Orlando, que morreu em janeiro, foi vítima de doença pulmonar, informou o parque na semana passada.
De acordo com o SeaWorld, que divulgou a causa da morte após longa investigação, a morte foi considerada “inesperada” porque até poucos dias antes ela parecia saudável. Em poucos dias, sua condição piorou muito e, apesar de extensivos cuidados, não foram capazes de impedir sua morte.
“Chegamos à conclusão de que a Kayla morreu de doença pulmonar, que se apresentou muito rapidamente no caso dela”, disse o Dr. Chris Dold, em comunicado. Ainda, segundo ele, “mortes por doença pulmonar são comuns em mamíferos marinhos na natureza, nos que se encontram sob cuidados humanos e naqueles que resgatamos. Continua sendo a principal causa de morte de golfinhos e baleias em todo o mundo”.
 “Como acontece com todos os animais sob nossos cuidados, vamos tentar aprender com a morte da Kayla”, acrescentou Chris no comunicado. E para seguir na enganação de que suas Orcas são mantidas em cativeiro não só para entretenimento/lucro, mas para fins científicos (na falha tentativa de convencer ativistas que não vivem apenas da exploração dos animais para shows), incluíram no comunicado a nota de que relataram sua morte para o Serviço Nacional de Pesca Marinha Americano (National Marine Fisheries Services) e que planejavam “compartilhar os dados coletados durante sua vida com a comunidade científica”.

Lembrando:

Kayla nasceu em cativeiro!
Jamais conheceu a vida livre no oceano!




segunda-feira, 27 de maio de 2019

National Geographic publica "Orcas não se dão bem em cativeiro"

Em março, a revista da National Geographic publicou uma reportagem sobre quão difícil é a vida das Orcas em cativeiro. Poucos dias depois, a National Geographic Brasil traduziu e também compartilhou a reportagem. Para a maioria dos leitores do blog, não há muita novidade dentre as informações, mas, dado a importância da revista e seu alcance e respeito, acho interessante registrar aqui. Apenas uma observação: À época, o motivo da morte da Kayla ainda não havia sido divulgada (apesar dos fortes indícios de problemas pulmonares. No último dia 20, o jornal Orlando Sentinel finalmente deu detalhes sobre a causa, notícia que compartilharei amanhã.
Segue reportagem da National Geographic:

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As Orcas Não se Dão Bem em Cativeiro. Saiba Porquê.
Estes mamíferos marinhos, estrelas de parques de diversões em todo o mundo, têm morrido prematuramente.
Terça-feira, 2 Abril

Em janeiro de 2019, Kayla morreu. Esta orca tinha 30 anos de idade e vivia no SeaWorld de Orlando. Se este animal estivesse em liberdade, poderia eventualmente viver até aos 80 anos. Ainda assim, Kayla viveu mais tempo do que qualquer outra orca nascida em cativeiro.
Não se sabe ao certo o que provocou a morte de Kayla (o SeaWorld não divulgou os resultados da sua necropsia, e por lei não são obrigados a fazê-lo), mas as causas imediatas da morte não serviriam de muito: de acordo com a base de dados de relatórios de necropsias, mantida pela Orca Project Corp. – uma organização sem fins lucrativos composta por especialistas em mamíferos marinhos que se opõe à conservação de orcas em cativeiro – as orcas costumam morrer devido a pneumonias ou outras infeções oportunas que atuam sobre o animal, quando este já está enfraquecido.
De acordo com duas bases de dados de peritos em cetáceos, no mundo inteiro, desde 1977, nasceram 70 orcas em cativeiro (sem contar com 30 nados-mortos ou que morreram no útero).
Atualmente, em parques aquáticos e aquários de todo o mundo, existem 59 orcas em cativeiro. Algumas foram capturadas na natureza, outras nasceram em cativeiro. Um terço das orcas em cativeiro, a nível mundial, está nos Estados Unidos, e todas, exceto uma, vivem em três parques do SeaWorld em Orlando, San Diego e San António. Lolita, uma orca de 54 anos que foi capturada em 1970 nas águas ao largo do estado de Washington, vive sozinha no Miami Seaquarium numa piscina a céu aberto, pouco mais comprida que o seu corpo.

Uma orca chamada Kayla, no SeaWorld de Orlando, em 2011.
Kayla morreu em janeiro de 2019, tinha 30 anos.
Na natureza, a esperança média de vida para uma orca fêmea
é de 50 anos. Muitas vivem até aos 80 ou 90 anos.
FOTOGRAFIA DE PHELAN M. EBENHACK, AP

Outras 10 orcas, capturadas na natureza, definham atualmente em cercados marinhos, no extremo leste da Rússia, enquanto o governo investiga a sua possível captura ilegal. Se forem vendidas a aquários, provavelmente para a China, o número global de orcas em cativeiro poderá subir para 69.
Existem várias evidências de que os cetáceos – baleias, golfinhos e botos – não prosperam em cativeiro. São animais sociais altamente inteligentes, geneticamente construídos para se alimentar, viver e migrar em grandes distâncias no oceano. As orcas, nascidas na natureza ou criadas em cativeiro, são os cetáceos que mais sofrem, diz Naomi Rose, cientista de mamíferos marinhos no Instituto de Cuidados para Animais, uma organização sem fins lucrativos sedeada em Washington.
Isso deve-se, em parte, ao seu tamanho. As orcas são animais massivos que nadam distâncias enormes na natureza – em média 65 quilómetros por dia – não porque podem, mas porque precisam, para satisfazer a sua dieta variada e para se exercitarem. Mergulham dos 30 aos 150 metros de profundidade, várias vezes por dia, todos os dias.
"É biologia básica", diz Rose. Uma orca nascida em cativeiro, e que nunca viveu no oceano, ainda tem os mesmos impulsos inatos, diz. "Se evoluímos para percorrer grandes distâncias, à procura de alimento e de parceiros, estamos adaptados a esse tipo de movimento, independentemente de sermos um urso polar, um elefante ou uma orca", diz Rose. "Nós colocamos [orcas] numa caixa com 45 metros de comprimento, por 30 de largura, com 10 metros de profundidade, e estamos basicamente a transformá-las em seres sedentários."
Rose explica que um indicador primário, para ver se um mamífero se dá bem em cativeiro, é o tamanho da sua área de alcance na natureza. Quanto maior for o seu alcance natural, menor será a probabilidade de prosperar numa área confinada. É a mesma razão pela qual alguns jardins zoológicos estão a terminar com as exposições de elefantes.
Nós conseguimos, de certa maneira, recriar os ambientes terrestres – como a savana, por exemplo – mas não conseguimos recriar o oceano.
“Não existe um único mamífero marinho adaptado para prosperar no mundo que tentamos reproduzir, numa caixa de betão”, diz Rose.

SINAIS DE SOFRIMENTO
É muito complicado, dizem os especialistas em bem-estar animal, provar qual é a razão específica que diminui o tempo de vida das orcas em piscinas. "O problema das orcas em cativeiro é que a sua saúde continua envolta em mistério", diz Heather Rally, veterinária de mamíferos marinhos da Fundação PETA. Apenas as pessoas que trabalham em instalações com orcas é que se aproximam realmente delas, e poucas dessas informações são tornadas públicas.
É óbvio que a vida em cativeiro compromete a saúde das orcas. Isso é evidente na sua zona corporal vital: os dentes. Um estudo de 2017, publicado na revista Archives of Oral Biology, descobriu que um quarto das orcas em cativeiro tem algum tipo de dano nos dentes. Algumas populações de orcas que vivem na natureza também mostram sinais de desgaste nos dentes, mas são simétricos e acontecem gradualmente ao longo de décadas, ao contrário do dano irregular acentuado que se verifica nas orcas em cativeiro.
De acordo com o estudo, este dano deve-se ao facto das orcas rasparem persistentemente os dentes nas paredes dos tanques, chegando ao ponto em que ficam com os nervos expostos. O desgaste nos dentes origina cavidades, altamente suscitáveis de infeções, mesmo que os tratadores os lavem regularmente com água limpa.
Este comportamento, induzido pelo stress, tem sido documentado em investigações científicas desde finais da década de 1980. Tradicionalmente chamados de estereótipos – padrões de atividade repetitivos que não servem uma função óbvia – estes comportamentos, que muitas vezes incluem automutilação, são típicos de animais em cativeiro que vivem em recintos demasiado pequenos.
As orcas têm o segundo maior cérebro de qualquer animal no planeta. Tal como os humanos, os seus cérebros são altamente desenvolvidos nas zonas de inteligência social, linguagem e autoconsciência. Na natureza, vivem em grupos familiares muito íntimos que partilham uma cultura única e sofisticada, passada de geração em geração.
Em cativeiro, são mantidas em grupos sociais artificiais, e algumas, como Lolita, vivem completamente sozinhas. As orcas nascidas em cativeiro são geralmente separadas das mães muito mais cedo do que aconteceria na natureza (as orcas macho costumam ficar com as mães a vida inteira), e são muitas vezes transferidas entre instalações. Kayla foi separada da mãe quando tinha 11 meses de idade, é já foi transferida entre parques SeaWorld, por todos os EUA, quatro vezes.
A tensão provocada pela rutura social é agravada pelo facto das orcas em cativeiro não conseguirem escapar de conflitos com outras orcas, ou de se envolverem em comportamentos de natação naturais, limitadas pelas dimensões das piscinas.
Em 2013, o filme documentário Blackfish mostrou cruamente o efeito psicológico da vida em cativeiro, através da história de uma orca capturada na natureza, chamada Tilikum, que matou um tratador no SeaWorld de Orlando. O filme incluía testemunhos de antigos tratadores do SeaWorld e de especialistas em cetáceos, onde afirmavam que o comportamento agressivo de Tilikum para com os humanos se devia à tensão em que esta se encontrava (Tilikum já tinha morto outro tratador noutro parque, na Colúmbia Britânica, no Canadá.) Os registos do tribunal mostram que o SeaWorld tinha documentado, entre 1988 e 2009, mais de 100 casos onde as orcas começaram a ficar agressivas para com os seus tratadores. Desses casos, 11 resultaram em lesões, e um resultou em morte.
Blackfish também tinha uma entrevista com um antigo capturador de orcas, John Crowe, onde este descreve ao pormenor o processo de capturar orcas juvenis na natureza; os lamentos dos bebés presos nas redes, o pânico das famílias que os rodeavam freneticamente, e o destino dos bebés que não sobreviviam à captura. Estes últimos, eram abertos e enchidos com pedras, sendo depois afundados nas profundezas do oceano.

ALTERAÇÕES OCEÂNICAS
A reação da opinião pública ao Blackfish foi rápida e furiosa. Centenas de milhares de espetadores assinaram petições a pedir ao SeaWorld que retirasse as orcas dos parques, ou que os fechasse. As empresas que tinham parcerias com a SeaWorld, como a Southwest Airlines e os Miami Dolphins, cortaram as suas relações. O número de visitantes começou a diminuir e as ações da empresa mergulharam a pique, e o SeaWorld ainda não recuperou totalmente da situação.
“Nós éramos uma campanha com pouca visibilidade. Agora, somos mainstream. E isso aconteceu de um dia para o outro”, diz Rose, que defende o bem-estar da orca em cativeiro desde 1990.
Durante vários anos, os grupos de defesa dos animais levantaram ações legais contra o Departamento da Agricultura dos EUA – responsável pelo cumprimento federal da Lei do Bem-Estar Animal – pela fraca monitorização do bem-estar dos animais em cativeiro, para fins de entretenimento. Os esforços nunca tiveram sucesso, diz Jared Goodman, vice-conselheiro de legislação animal na Fundação PETA, que participou em vários dos processos judiciais.
Mas em 2017 as coisas começaram a mudar. A reprodução de orcas em cativeiro foi considerada ilegal no estado da Califórnia. Pouco tempo depois, o SeaWorld, que tem um parque em San Diego, anunciou que ia acabar com o programa de reprodução de orcas em cativeiro, afirmando que as orcas que ainda permanecem nos parques serão a última geração a viver nas instalações SeaWorld. Apesar de 20 orcas e muitos outros cetáceos ainda fazerem espetáculos nos parques, a empresa aposta cada vez mais em parques de diversões diferentes.
A nível federal, o congressista Adam Schiff, democrata da Califórnia, tem tentado aprovar uma lei para acabar faseadamente com as exibições de orcas nos EUA. No Canadá, está prestes a ser aprovada uma lei que bane todas as exibições de cetáceos – não só de orcas, mas também de golfinhos, botos e baleias. 

OLHAR PARA O FUTURO
Mas resta saber o que fazer com as 22 orcas em cativeiro, nos EUA e no Canadá, se a legislação federal encerrar as instalações, ou se as instalações de cativeiro, como as do SeaWorld, concordam em dar o passo seguinte e retiram as orcas que restam. Nenhum destes animais pode ser libertado na natureza – habituaram-se a ser alimentados por humanos.
O Projeto Santuário Baleia, liderado por um grupo de cientistas de mamíferos marinhos, veterinários, peritos políticos e engenheiros, visa estabelecer santuários junto à costa, para cetáceos reformados ou resgatados. A ideia passa por dar aos animais a possibilidade de viver em habitats isolados no oceano, continuando a ser cuidados e alimentados por humanos. O grupo identificou possíveis locais na Colúmbia Britânica, no estado de Washington e na Nova Escócia. A logística necessária para criar um santuário destes é complexa, diz Heather Rally, que faz parte do conselho de consultores da organização.
“Temos santuários para todas as outras espécies”, diz Heather. Apesar dos desafios, “chegou a altura de termos um santuário para os mamíferos marinhos. Já era altura”.
O Projeto Santuário Baleia espera eventualmente fazer parceria com o SeaWorld no processo de reabilitação. Mas o SeaWorld opõe-se ao conceito de santuários marinhos – referindo-se a estes por “jaulas marinhas”, afirmando que os perigos ambientais e um habitat radicalmente diferente podem provocar ainda mais stress nas orcas, piorando a situação, em vez de a melhorar. O SeaWorld removeu do seu website a declaração de 2016, com os detalhes da oposição, mas um representante da empresa confirmou à National Geographic que a sua posição não sofreu alterações.
Aparentemente, existe alguma esperança para o futuro dos cetáceos em cativeiro no Ocidente, mas na Rússia e na China, a indústria de mamíferos marinhos em cativeiro continua a crescer. Na Rússia, 10 orcas recém-capturadas estão num cercado no mar, aguardando o seu destino. A China tem agora 76 parques operacionais, e estão em construção mais 25. A grande maioria dos cetáceos em cativeiro na China foi capturada na natureza e importada da Rússia e do Japão.
A China “ainda não teve o seu momento Blackfish”, diz Rose. Mas tem esperança que isso possa vir a acontecer, porque Rose já passou por esta situação.
“Há dez anos atrás ninguém diria que isto podia acontecer”, diz.



Fonte: Site National Geographic. Para acessar a publicação original em Inglês, clique neste link: https://www.nationalgeographic.com/animals/2019/03/orcas-captivity-welfare/ - há uma linda galeria de imagens disponível também.


P.S.: Existem alguns erros simples de Português na publicação e algumas más traduções, mas quis manter a reportagem original conforme publicado na revista da NatGeo no Brasil.