quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

50 anos da captura da Corky

"Conte. 50. Cinqüenta. Nos dedos da sua mão. Leva um tempo. Pense nisso. Pense em cada um representando um ano perdido na vida da Corky: 365 dias circulando e girando e girando e girando em torno de seu tanque até ficar tonta, longe de todos os sons que fizeram dela uma Orca, um ser com uma incrível percepção de som e espaço; afastada de uma linhagem familiar que se estende por gerações que vão além da última Era Glacial; inimaginavelmente privada de tudo o que ela e suas semelhantes dependem para existir.
Na semana passada, fui com a Helena à Pender Harbor, em Sunshine Coast, ao norte de Vancouver, para encontrar o Sonny Reid, pescador que capturou Corky no dia 11 de dezembro de 1969. Nós não nos víamos desde aquela época. Temos a mesma idade. Ele lembrava de mim mais alto. Um homem atarracado e resignado, Sonny viveu a vida toda em Pender Harbor. A captura das Orcas foi acidental; ele ganhou dinheiro, mas não muito; ele pescava salmão e arenque antes de ambas as pescas fracassarem. Ele está aposentado agora e como vendeu o barco não pesca mais, mas vagueia até o porto no Madeira Park quase todos os dias e se lembra das capturas como se fossem ontem. Ouvi dizer que ele havia mudado de ideia sobre o tema. Nosso encontro foi calmo e a conversa tranquila. Para mim, o momento mais pungente foi quando perguntei a Sonny quando ele havia mudado de ideia. Ele ficou pensativo por um momento e depois me disse que aconteceu no cais em que estávamos, quando as Orcas estavam sendo transferidas para caminhões para serem levadas. Ele as ouviu chorar. Naquele momento, ele entendeu o que havia feito e desejou poder devolvê-las. Mas não podia, é claro.

Agora, há outra chance para Corky. Um santuário está sendo preparado para ela em Double Bay, na ilha Hanson, não muito longe do OrcaLab e de Dong Chong Bay, onde Springer foi devolvida à família em 2002. Lá, a Corky será tratada por pessoas que conhece bem, funcionários do SeaWorld. Ela vai nadar na água do oceano novamente e, embora ainda esteja confinada, sua família poderá visitá-la. O que acontecerá após o reencontro é desconhecido. É claro que existem desafios à frente, sendo o principal deles a cooperação do SeaWorld, o que é possível e o que acredito que irá acontecer.

Enquanto a Corky entra no seu 51º ano longe da família e do oceano em que nasceu, acenderemos uma vela para ela. Convidamos você a fazer o mesmo."


Paul Spong, Orca Lab

11 de dezembro de 2019



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