As baleias jubarte estão se aproximando em um número anormal no litoral norte de São Paulo e pesquisadores não sabem exatamente o porquê. Só nos últimos 30 dias, mais de 50 foram vistas ao largo de Ilhabela, criando um misto de euforia e preocupação entre ambientalistas, por causa do alto risco de colisão com barcos e redes de pesca na região.
Os números são de Julio Cardoso, ambientalista e fundador do Projeto Baleia à Vista, que há 15 anos monitora a presença de cetáceos – baleias e golfinhos – nas águas de Ilhabela e São Sebastião. “É um comportamento inédito. As jubartes estão descobrindo a região”, diz. Entre 2004 e 2015, ele passou mais de 2,3 mil horas no mar e topou com apenas seis jubartes. De 2016 até agora, já foram 66, e a temporada está só começando. “O aumento é real e significativo”, garante.
As jubartes do Atlântico Sul têm um comportamento migratório bem conhecido: elas passam o verão se alimentando nas águas geladas da Antártida e depois sobem em direção aos trópicos, para passar o inverno descansando, namorando e cuidando da família nas águas quentes e confortáveis da região dos Abrolhos, entre o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo. Mas elas não sobem pela costa Normalmente, só se aproximam do litoral do Rio de Janeiro para cima, e por isso quase nunca são vistas (ou eram vistas) em São Paulo.
Especialistas acreditam que essa nova presença no litoral paulista esteja associada a dois fatores. O primeiro é o aumento da população de jubartes, que vem crescendo no Brasil a uma taxa de 12% ao ano, segundo dados de monitoramento do Projeto Baleia Jubarte (PBJ).
Em 2015, ano do último censo do projeto, a estimativa era de 17 mil baleias, comparado a pouco mais de 2 mil em 2001; e a expectativa é de que esse número passe dos 20 mil agora, segundo o coordenador de Pesquisa do PBJ, Milton Marcondes.
Como há mais baleias no mar, faz sentido que haja mais avistamentos, argumenta ele. Mas o que estaria as induzindo a se aproximar mais da costa nesses últimos anos? É aí que entra o segundo fator.
Pesquisas indicam que houve uma diminuição da quantidade de krill (o principal alimento da jubartes) nas águas da Antártida entre 2015 e 2016, causada por fatores climáticos. E foi justamente nesses anos que a “anomalia” de baleias começou na costa brasileira.
Em 2015, segundo Marcondes, as jubartes chegaram um pouco mais cedo em Abrolhos e foram embora muito antes do que o normal – em setembro, em vez de outubro ou novembro. Em 2016, uma grande parte das baleias nem chegou à Bahia, e houve um “boom” de encalhes no litoral paulista (26, comparado a uma média de 2 ou 3 em anos anteriores).
Alimentação
A hipótese, portanto, é que as baleias tenham chegado à costa brasileira ainda com fome, por causa da redução da oferta de alimento na Antártida, agravada pelo aumento populacional da espécie. “Quando a população era de 3 mil jubartes, tinha alimento para todo mundo. Agora, se há uma oscilação na disponibilidade de krill, tem baleia que vai passar fome”, avalia Marcondes.
Nesse caso, elas estariam se aproximando da costa atraídas pelas águas mais frias do Sul e Sudeste, onde a oferta de alimentos para elas é bem maior do que nas águas quentes de Abrolhos.
Resta saber se isso é uma anomalia passageira, ou uma nova tendência que veio para ficar. “Acho que a observação de baleias vai ser cada vez mais frequente em São Paulo”, aposta Marcondes.
Cardoso também acha que elas vieram para ficar. O comportamento, segundo ele, é claramente de animais que estão se alimentando. Anteriormente isoladas, elas agora aparecem em grupos. “Não são baleias perdidas. Elas estão vindo para cá com um propósito.”
Riscos
O aumento da presença de baleias no litoral paulista pode ser bom para o turismo e a educação ambiental, mas também oferece riscos, tanto para os cetáceos quanto para as pessoas. O risco de colisão com embarcações é grande, e é comum as baleias se enroscarem em redes de pesca, resultando em risco de vida para elas e em prejuízos econômicos para os pescadores.
“Vamos ter de aprender a conviver com as baleias e minimizar esses conflitos”, diz Julio Cardoso, do Projeto Baleia à Vista. As jubartes não são a única espécie em risco. Nesta semana ele fotografou uma baleia franca com filhote, e a mãe tinha uma rede de pesca enroscada na cabeça. Baleias bryde e orcas também ocorrem na região.
FONTE: Site rapidonoar de 25 de julho de 2018.
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