Em 24 de fevereiro de 2010, a notícia de que a treinadora Dawn Brancheau havia sido morta pela Orca Tilikum no SeaWorld de Orlando se espalhou rapidamente... Em minutos estava em todos os sites de notícia chegando a ser informado no "Jornal Nacional", bem como nos demais grandes veículos de comunicação do Brasil e do mundo (mesmo que equivocadamente alegando que a morte havia ocorrido durante um show e diante de uma enorme plateia – o que não foi o caso, como meus leitores bem sabem). O caso teve imensa repercussão estendendo-se por semanas e é lembrado até hoje. Por esse motivo, foi com extrema surpresa que, cerca de um ano depois, vim a saber (pesquisando sobre notícias de Orcas), que exatos dois meses antes da morte da Dawn, um outro treinador já havia sido morto por uma Orca também do SeaWorld em um parque marinho nas Ilhas Canárias. Por que esta informação não foi relevante antes? Por que essa morte foi tão ignorada? Passei semanas buscando qualquer fonte aqui no Brasil que informasse sobre a morte, mas nada encontrei...
Este caso também foi um dos motivadores na minha criação deste canal de comunicação que é o blog (além de que raramente é publicado algo sobre Orcas por aqui e menos ainda sobre a realidade por trás dos cativeiros). Agora, oito anos depois, tão surpreendente quanto a informação de sua ignorada morte venho a saber que a mãe deste treinador (que teria todas as razões do mundo para detestar esse animal) hoje luta por sua liberdade.
Mercedes Hernandez, mãe do Alexis Martinez, tem dado uma lição maravilhosa de mais profundo amor... De perdão, entendimento, humildade, compaixão e respeito. Keto tirou a vida do seu maior amor, mas ainda assim ela consegue respeitá-lo pelo animal que é e acredita que isso só tenha ocorrido devido a situação de estresse que lhe é imposta diariamente.
Há poucas semanas tomei conhecimento deste pequeno documentário que mostra Mercedes hoje, mostra como ela luta diariamente contra a dor da perda, bem como contra os cativeiros. É muito tocante! Como mãe confesso ter me emocionado muito. Com carinho, que compartilho com vocês abaixo junto à descrição dado que não há legenda:
“Meu filho está morto! Jamais irá voltar! Mas o que aprendemos com isso? Eu vou continuar minha luta. As Orcas merecem minha ajuda!”, introduz Mercedes.
O Loro Parque, em Tenerife, nas Ilhas Canárias, é visitado por milhares de turistas, mas poucos sabem que ali um treinador foi morto por uma das Orcas, por isso, sua mãe agora acredita que elas deveriam ser libertadas. Atualmente, Mercedes busca na meditação, na yoga e outras atividades alternativas um alento para sua dor e a aceitação do fato de que o filho jamais irá abraça-la novamente. A morte de seu filho foi devastadora e todos esses sentimentos são muito difíceis de lidar.
Alexis foi morto no dia 24 de dezembro de 2009 durante o ensaio de um show de Natal e sua mãe até hoje tenta compreender exatamente o que ocorreu naquele dia. À época, ela desconhecia os riscos que envolviam o trabalho com Orcas. Ela se sentia orgulhosa do filho que amava o que fazia. Ela conta que apenas uma vez durante uma apresentação pensou: “Meu Deus, que perigo! Uma baleia pesa toneladas, um ser humano ao lado fica tão pequeno! Mas nunca pensei que algo ruim fosse acontecer porque eu ignorava os riscos. No entanto, agora quero que as pessoas entendam que esses shows não são legais... não são corretos.” Mercedes agora tenta conscientizar as pessoas, mesmo que muitos não compartilhem de suas preocupações. Logo após a morte do Alexis, o parque já começou a mascarar as causas de sua morte. Até hoje muitos acreditam que ele morreu afogado. No entanto, a necropsia é bem clara ao concluir que ele sofreu um ataque brutal da Orca que causou lesões fatais.
O Loro Parque segue sendo uma grande atração turística local e os shows continuaram mesmo após sua morte. Quem assiste às apresentações têm a sensação de que as Orcas e os treinadores vivem em perfeita harmonia e que o tanque é grande o suficiente. Mas o que não sabem é que, na natureza, Orcas percorrem mais de 100km em um único dia. “Keto, a Orca que matou o Alexis, fez isso por frustração, porque é estressado com tanta pressão. Eu acredito que ele o atacou porque de alguma forma queria dar um sinal”, conta Mercedes.
O Loro Parque recebe mais de 1 milhão de visitantes por ano, ou seja, é um negócio lucrativo. Há cartazes e publicidade para todo lado, até mais placas do que do hospital local. Há até uma linha com um trenzinho que leva as pessoas até o parque. Com frequência há ativistas na porta tentando mostrar para os visitantes a realidade sobre a crueldade de se manter animais em cativeiro. A Mercedes não se considera uma ativista, mas se opõem aos cativeiros. Já o Loro Parque afirma que as Orcas estão melhores em seu tanque do que na natureza devido à poluição e à escassez de alimentos. Wolfgang Kiessling, dono do Loro Parque, gosta de exaltar o quanto ama os animais e a importância da preservação da fauna, mas fica uma pergunta: Como uma Orca matou um de seus treinadores?
“Como foi possível? Bem, foi um acidente. E acidentes acontecem. É tudo o que tenho a declarar.”, responde Wolfgang quando questionado pelo repórter sobre a morte do Alexis. “Mas como você continua chamando isso de acidente e não de um ataque?”, pergunta novamente o repórter. “Porque não foi um ataque... Ataque seria se o animal... Tenho certeza que não foi um ataque porque o treinador tinha uma boa relação com o animal. Eles trabalhavam juntos e de repente o animal ficou nervoso.”, conclui o dono do parque.
Desde a morte do Alexis, os treinadores não podem mais entrar na água com as Orcas.
Mercedes gosta de visitar a pequena baía em que lançou as cinzas do filho. Lá ela se sente mais próxima dele. O sonho dela era ver Orcas livres na natureza. “Poder vê-las na natureza seria um grande presente... Ver esse fantásticos animais em liberdade... Eu sinto uma conexão com elas em liberdade. Seria incrível, espetacular!”.
E foi na Ilha de Vancouver, no Canadá, que esse sonho se tornou realidade. A família e os amigos ajudaram Mercedes a pagar pela viagem. E o Alexis segue com ela, não só na tatuagem.
A Mercedes sente uma conexão especial com as Orcas. “Eu aprendi muito sobre elas depois que passei a ler sobre como vivem. Há uma ligação muito forte entre as mães e seus filhotes... e por muito tempo. E isso me fascina. É por isso que amo tanto esses animais.”, diz ela.
E num passeio por Johnstone Strait, o momento finalmente chegou. Logo, um pod grande de Orcas passa pelos caiaques. (não há como conter as emoções ao ver a emoção dessa mãe).
“O sentimento é muito intenso. Mas estou muito feliz de vê-las. É emocionante vê-las na natureza... Eu sinto como se eu pudesse me conectar com elas em sua liberdade. Logo todas as Orcas estarão livres, como deveria ser.”
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