quarta-feira, 28 de maio de 2014

Kalia grávida obrigada a sair da água

Desculpem-me mas não é necessário ser nenhum especialista em cetáceos para saber que se eles vivem na água (apesar de respirarem perfeitamente fora dela), não devem permanecer fora dela, especialmente uma fêmea grávida. Assistam a esta apresentação do SeaWorld em que se exige de Kalia que saia da água e permaneça fora dela por um tempo razoável. E lembrem-se: Inseminada artificialmente antes de sua maturidade sexual adequada, Kalia está grávida. No telão é possível ver sua barriga mais avantajada.
Aproveitem para conhecer o novo equipamento de emergência que os treinadores estão sendo obrigados a usarem na interação com as Orcas. O parque alega que o equipamento possui oxigênio reserva em caso de um deles ser mantido debaixo da água pelas Orcas. Ex-treinadores e outros especialistas riram deste novo equipamento quando o viram... Eles sabem bem que num momento de ataque, eles não serviriam para absolutamente nada!







sábado, 24 de maio de 2014

Baleias-jubarte estão mais protegidas no Brasil

O Brasil tirou a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) da lista de espécies ameaçadas de extinção graças ao aumento da população desses animais no litoral do país, onde cruzam e geram novos filhotes.
A espécie foi reclassificada para "quase ameaçada", status que demanda a continuidade de trabalhos de conservação. A informação será divulgada nesta quinta-feira (22) pelo Ministério do Meio Ambiente.
Segundo o MMA e o Instituto Baleia Jubarte, há quase três décadas existiam entre 500 e 800 animais vivendo apenas na região de Abrolhos, no sul da Bahia – principal concentração dessas baleias. Em 2011, quando foi realizada a última contagem aérea, foram avistados 14 mil animais. Até o próximo censo, previsto para este ano, o número pode saltar para 20 mil.
No país, elas são encontradas na costa do Espírito Santo e Bahia entre julho e novembro, onde permanecem para procriação. De dezembro até junho, seguem para a Antártica, onde se alimentam de krill (invertebrados parecidos com o camarão).


Impacto humano
Com exemplares que podem medir até 16 metros de comprimento e pesar mais de 40 toneladas, as jubartes foram, por muito tempo, alvo da pesca predatória no Brasil.
Sérgio Cipolotti, biólogo e coordenador ambiental do Instituto Baleia Jubarte, explica que o declínio de espécimes começou em meados do século 17, quando eles eram caçados para extração de óleo, usado para abastecer candeeiros, responsáveis pela iluminação nas cidades, e consumo da carne.
Com a queda populacional das jubartes e de outras baleias em todo o planeta, criou-se a Comissão Internacional Baleeira (CIB), que teve entre seus principais resultados a imposição de uma moratória de caça a partir de 1986.
Ugo Versillo, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), explica que no ano seguinte, em 1987, o Brasil proibiu a caça.
A partir deste momento, foram iniciados trabalhos de conscientização para aumentar o número de exemplares, como a identificação das rotas migratórias, quais eram os perigos que esses animais enfrentavam e outros detalhes importantes para a conservação.
No entanto, segundo Versillo, ainda não há o que comemorar. A reclassificação para o status “quase ameaçada” significa, na visão do técnico do ICMBio, que ainda há perigo.
“Uma das grandes preocupações é a questão da colisão com navios. Como aumentou o número de baleias, pode crescer esse tipo de acidente. Temos que definir estratégias para evitá-los, incluindo o uso de tecnologias”, explica.

Natureza 'high-tech'
Alexandre Zerbini, brasileiro que trabalha no Laboratório Nacional de Mamíferos Marinhos da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), órgão dos Estados Unidos responsável pelos mares e atmosfera, explica que há várias tecnologias que ajudariam a prevenir a mortalidade desses animais.
Um dos exemplos é a telemetria satelital, que permite investigar habitats críticos e protegê-los de atividades humanas. "Mas há métodos acústicos em desenvolvimento, que poderão transmitir dados em tempo real e evitar áreas onde as baleias se encontram, além de métodos novos de observação, para minimizar colisão com barcos”, explica Alexandre, que também trabalha junto a ONG Instituto Aqualie, que monitora baleias no Brasil via satélite.
Nos EUA, por exemplo, pesquisadores desenvolveram um aplicativo gratuito para iPad e iPhone que alerta marinheiros quando eles se aproximam de uma área onde baleias estão reunidas. O app envia os últimos dados sobre as direções tomadas por espécimes da baleia, coletados pela NOAA.
O sistema espera limitar o número de colisões mortais entre baleias e embarcações, especialmente navios de grande porte, como cruzeiros e cargueiros. Quando as baleias são detectadas na área, navios podem mudar levemente o curso ou diminuir a velocidade.

Santuário no Atlântico Sul
Um grande projeto apoiado por Brasil, Argentina, Uruguai e África do Sul, é a criação de um santuário no Atlântico Sul, que preservaria as jubartes e outros animais marinhos que fazem do trecho de oceano entre a América do Sul e a África seu habitat.
Desde 2000, o governo brasileiro, liderando o chamado Grupo de Buenos Aires, apresenta a proposta do santuário e defende o uso não letal de baleias. Além de assumir uma postura conservacionista, o país defende que o turismo de observação é um negócio muito mais rentável e gerador de emprego do que a morte do animal.
O projeto, já apresentado e que está em análise científica, deve ser votado em setembro, durante a reunião anual da Comissão Internacional Baleeira, que acontece em Estocolmo, na Suécia. “O santuário quer harmonizar as políticas, de maneira que os cetáceos sejam preservados. A conservação é a atividade mais barata que se tem”, disse.
Para ser aprovado, o santuário precisa ter 75% dos votos dos 88 membros da CIB. Porém, países que apoiam a caça de baleias, como Japão e a Islândia, costumam emperrar a negociação.



Fonte: G1 de 22 de maio de 2014.



P.S.: As imagens são do Instituto Baleia Jubarte.




quinta-feira, 22 de maio de 2014

Vídeo: Orcas Transeuntes na Colúmbia Britânica

Como já mencionado outras vezes no blog, às vezes, imagens dizem mais do que mil palavras. Não há como assistir a imagens como estas e não ser contra cativeiros de baleias e golfinhos... Este vídeo espetacular das Orcas Transeuntes T100s e T101 feito por Traci Walter ontem à tarde no Estreito de Georgia, na Ilha de Vancouver, no Canadá, certamente vale mais do que mil palavras!




"Nenhum aquário, nenhum tanque num parque marinho, por mais espaçoso que seja, poderá reproduzir as condições encontradas nos oceanos. E nenhum golfinho que habita um aquário ou parque marinho pode ser considerado normal."
Jacques Yves Cousteau




terça-feira, 20 de maio de 2014

Corky e um de seus filhotes

Através dos quadrinhos que postei no início do mês vocês souberam quantos filhotes a Orca Corky já teve: Sete! Nenhum deles sobreviveu. Esta imagem traz Corky com o segundo deles, chamado Spooky. Spooky não sobreviveu mais que três dias. Ele era um filhote 100% Residente do Norte, Orky II era seu pai. Corky sobrevive em cativeiro há mais de 40 anos...
Linda e triste imagem!



sexta-feira, 16 de maio de 2014

Orca centenária está de volta

É com ansiedade que pesquisadores e moradores da região do Norte do Pacífico aguardam anualmente, com a chegada do verão, o retorno de Orcas Residentes e Transeuntes que passam parte do ano no local. São os pods de Orcas mais bem conhecidos, estudados e acompanhados em todo o mundo e o famoso Pod J ("Jay-Pod"), que ficou conhecido mundialmente por ficticiamente ser o pod que Willy pertencia, está entre eles. E nele, sua mais majestosa presença: a querida Granny!
Granny, cuja tradução significa "vózinha", também é conhecida pela identificação científica "J-2", e neste ano ela está completando nada menos que 103 anos! Isso mesmo: CENTO E TRÊS ANOS!
Ela retornou linda e forte, como todo ano, juntamente a seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Desde que ela foi vista pela primeira vez em meados da década de 1930, sabe-se que ela teve dois filhotes, que também tiveram os seus. Sabe-se também que um de seus netos, chamado Canuck, morreu aos 4 anos de idade depois de ter sido capturado e mantido em cativeiro pelo SeaWorld.
A presença magnífica de Granny vem contrariar mais uma vez a afirmação do SeaWorld ao responder ao ocumentário "Blackfish" quando afirmaram que "ninguém sabe ao certo quanto vive uma Orca"... Pois bem SeaWorld, segura esta então! 103 está bom para vocês?

Eu tive o prazer e a sorte de observar Granny por duas vezes. A última vez foi em 2011 quando consegui este registro abaixo:





P.S.: O blog já mencionou Granny diversas vezes, especialmente quando ela estava completando 100 anos e várias comemorações foram organizadas pelos pesquisadores e moradores da região em que ela visita. Veja mais na postagem de julho de 2011:






quinta-feira, 15 de maio de 2014

Atriz se une ao PETA contra os cativeiros

Movida pelas reveladoras informações mostradas no documentário "Blackfish", a atriz canadense Laura Vandervoort decidiu se unir ao PETA numa campanha contra a manutenção de Orcas em cativeiro.


"Laura Vandervoort, do seriado Bitten, mostra que ser mantido em cativeiro e forçado a se apresentar ao público não é uma forma digna de vida. No entanto, dia após dia, ano após ano, década após década, Orcas de cativeiro são confinadas em tanques que equivalem ao tamanho de uma banheira e são forçadas a fazerem truques não naturais a elas - tudo em nome do "entretenimento". Orcas são mamíferos extremamente inteligentes, com auto-consciência e fortes laços de família, bem como os humanos. A permanência delas em pequenos tanques as leva a brigas que provocam graves ferimentos. Elas ficam tão tristes que têm que ser tratadas com antidepressivos, além de descontarem suas frustrações nos treinadores.
Ao conhecer a verdade de partir o coração sobre as Orcas em cativeiro, Laura se uniu ao PETA mais uma vez para lutar em nomes dos animais."



Saiba mais aqui:


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Quantidade de animais na costa paulista é maior do que o imaginado

Estudo mais que interessante publicado na revista da FAPESP
sobre a presença de mamíferos marinhos na costa paulista.
Não deixem de ler!

Edição 218 - Abril de 2014


* * * * *

Baleias e golfinhos à vista!

Em pé, à direita da proa da lancha que oscilava como um pêndulo enquanto deslizava com rapidez, Victor Uber Paschoalini foi quem viu primeiro algo se mexendo ao longe no meio do mar por volta das 11 da manhã do dia 10 de fevereiro deste ano, a menos de 1 quilômetro da Ilha da Queimada Grande, no litoral paulista. Ele achou que eram golfinhos, exatamente o que estavam procurando. Para confirmar, chamou o chefe da expedição, o biólogo Marcos César de Oliveira Santos, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Aproximaram-se com a lancha e confirmaram: eram mais de 20 golfinhos-pintados-do-atlântico (Stenella frontalis), com 2 a 2,5 metros de comprimento, que logo começaram a saltar na água límpida ao lado da lancha. Santos pediu para o piloto reduzir a velocidade e, com sua equipe, fotografou os animais – principalmente as nadadeiras dorsais, que funcionam como uma cédula de identidade, por causa das cicatrizes e marcas únicas em cada indivíduo – e gravou seus sons com um hidrofone, colocado na água. Em seguida, com uma flecha atirada de uma balestra, ele coletou uma amostra de pele com 1 milímetro de espessura, para análises genéticas, e 2 centímetros de gordura para análise de contaminantes químicos.

Esse era o início da quinta viagem de uma série de 23 planejadas até 2015 para mapear a diversidade e a distribuição de cetáceos – baleias e golfinhos, também chamados de botos – do litoral paulista. Santos e sua equipe, com base nos animais mortos que encontraram na praia nos últimos anos e nos vivos que estão vendo agora, registraram até agora mais de 300 indivíduos de 29 espécies de cetáceos, o equivalente a 63% das 46 espécies já observadas no litoral brasileiro. Em rios a diversidade de golfinhos é menor: uma nova espécie, batizada de Inia araguaiaensis, a quinta já registrada, foi anunciada em janeiro por pesquisadores do Amazonas, que a encontraram no rio Araguaia e seus afluentes. Embora pouco vistos e pouco estudados, os cetáceos da costa brasileira representam quase metade das 87 espécies já identificadas nos mares do mundo.

Os resultados preliminares sugerem também uma diversidade de espécies e de abundância de cetáceos maiores do que o imaginado – desde as toninhas (Pontoporia blanivillei), um dos menores mamíferos de água doce, com até 2 metros de comprimento, encontrada do Espírito Santo à Argentina e vítima constante da captura acidental nas redes para peixes, até as colossais baleias-de-bryde (Balaenoptera brydei), que chegam a 15 metros de comprimento.


Desse trabalho estão também emergindo novas conclusões e hipóteses sobre as baleias e os golfinhos que percorrem o litoral brasileiro. Comparando amostras de DNA, Santos e outros pesquisadores da USP, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Colômbia e de Porto Rico verificaram que as populações de golfinhos-pintados-do-atlântico encontrados no Sul e Sudeste do Brasil e no Caribe são distintas entre si e não se misturam. Além disso, um equívoco sobre outra espécie está sendo desfeito. As baleias-de-bryde, uma espécie arisca e ágil, que permanecem pouco tempo na superfície, aparentemente percorrem o litoral paulista ao longo de todo o ano e não apenas no verão e na primavera, como se pensava, porque os mergulhadores as viam apenas na temporada de mergulho.

Outra abordagem possível – e bastante usada – de mapeamento das populações de cetáceos é a partir de um ponto fixo. É como se faz no arquipélago de Abrolhos, litoral da Bahia, com as baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae), uma das espécies de maior distribuição geográfica no mundo e a mais estudada no Brasil, em vista de suas características únicas, como as nadadeiras peitorais, que chegam a um terço do corpo, e por sua distribuição espacial e temporal previsível: 80% das jubartes que visitam a costa brasileira se concentram na região de Abrolhos, principalmente de julho a novembro, para terem e amamentarem os filhotes em águas mornas e rasas. O biólogo Salvatore Siciliano, atualmente na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Rio de Janeiro, esteve lá em 1989 e 1990 para fazer seu mestrado e, “sentado em uma pedra com prancheta e binóculo”, como ele recordou, avistou 604 grupos de jubarte (metade era de mães com filhotes) em 191 dias de observação. Nessa época havia equipes de pesquisa em mamíferos marinhos estabelecidas apenas em Manaus, no Amazonas, e em Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Outros grupos se formaram depois, mas os estudos sobre cetáceos antes de 1980 são muito raros, lembra Siciliano, dificultando análises e comparações, diferentemente de aves ou mamíferos terrestres, estudados há três séculos.

Daniela Abras, pesquisadora do Instituto Oceanográfico da USP, esteve em Abrolhos em julho de 2013. Com apoio da Marinha, do Instituto Jubarte, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Cetacean Society International (CSI), assentada sobre um dos pontos mais altos do arquipélago, ela registrou 500 majestosas baleias, bem mais que as 200 registradas em 2004. “Está havendo um aumento populacional de baleias-jubarte, como resultado da proibição da caça, mas ainda está muito abaixo do que era”, diz ela. Hoje se estima a população de baleias-jubarte em 7.900 animais, que podem ser vistos na costa desde a região de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, até o Rio Grande do Norte, ainda abaixo das estimadas 25 mil jubartes antes de começarem a ser intensamente caçadas. A partir de 1650, nas principais cidades do litoral, como descrito no livro A baleia no Brasil colonial, da historiadora Myriam Ellis (Edusp/Melhoramentos, 1969), a caça de baleias era uma importante atividade econômica, para extração do chamado azeite de peixe, usado como argamassa para construções e em iluminação pública, e cerdas bucais, vendidas na Europa para a fabricação de espartilhos. Com barcos de 10 a 12 metros de comprimento, as baleias eram capturadas com arpão, depois abatidas por meio de sucessivos golpes de lanças de 2 metros de comprimento, arrastadas à praia e abertas: cada animal fornecia em média 7 mil litros de óleo. Uma lei federal proibindo a caça de baleias entrou em vigor apenas em 1987.

“Esta é a primeira vez que fazemos cruzeiros oceanográficos específicos para mapear cetáceos nos 600 quilômetros do litoral de São Paulo”, afirma Santos. “Por falta de especialistas e limitações financeiras, antes os trabalhos eram feitos apenas com animais mortos”, conta Santos. Ele próprio, durante o mestrado, percorreu de bicicleta ou mobilete as praias de Cananeia e Ilha Comprida, no litoral sul de São Paulo, coletando crânios de cetáceos encontrados mortos – ao todo, Santos reuniu e examinou 124 crânios. Foi também a primeira vez que um repórter fotográfico – Eduardo Cesar, de Pesquisa Fapesp – acompanhou uma das viagens de fevereiro e passou três dias com os pesquisadores em alto-mar.

Duas semanas antes da viagem, Santos, impressionado com a curiosidade de Paschoalini em sala de aula, convidou-o para completar sua equipe nessa expedição, mas não imaginava o tamanho da sorte do rapaz de 19 anos, agora no segundo ano do curso de oceanografia, com um provérbio bretão tatuado no braço direito, “lute e lute novamente até os cordeiros virarem leões”. Os quatro integrantes da equipe revezavam-se na observação, em turnos de uma hora, com meia de descanso, mas foi Paschoalini quem, duas horas mais tarde, avistou o segundo grupo de golfinhos, desta vez de outra espécie, o nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus), também com cerca de 20 animais, um pouco maiores e menos abundantes que os pintados, agora em uma água turva e sob sol forte.

Ao seu lado, a oceanógrafa Giovanna Corrêa e Figueiredo notou que os animais, normalmente dóceis – como o amigável Flipper de um antigo seriado da televisão –, naquele dia estavam arredios. Talvez porque, ela cogitou, estivessem com fome e apressados atrás de um cardume ou incomodados com a temperatura da água, que variava de 30 a 33º Celsius, quase cinco graus acima do habitual. Algas e outros organismos proliferam mais facilmente na água mais quente, formando uma mancha escura que dificulta a visibilidade, como a que se estendeu em fevereiro da costa do Rio de Janeiro a Santa Catarina. Nesse dia e nos dois seguintes – percorreram cerca de 650 quilômetros desde São Vicente até a Ilha do Mel, norte do Paraná – permaneceram atentos olhando o mar, da proa à popa, mesmo com o sol refletindo na água no final da tarde, e não viram mais golfinhos ou baleias. “Em alguns momentos o cansaço é tão grande que a gente vê onda e acha que é golfinho”, diz Giovanna.

Ela acompanha Santos desde a primeira expedição, em dezembro de 2012. No primeiro dia eles e outros pesquisadores do grupo percorreram o mar sem ver qualquer cetáceo, mas no segundo maravilharam-se ao avistar um grupo de 16 orcas (Orcinus orca), a espécie mais encorpada de golfinhos (não, não são baleias) – os machos mais taludos chegam a 10 metros de comprimento e 10 toneladas de peso –, atrás de Ilhabela, litoral norte de São Paulo. Não é comum encontrá-las tão perto da costa. “Passamos quase duas horas com as orcas, observando e fotografando”, relatou Santos. “Sabemos muito pouco sobre elas, quantas são, quando vão aparecer.”

Comparando fotografias das nadadeiras dorsais, pôde-se ver que dois indivíduos do grupo de Ilhabela, um mês antes, estavam perto das praias da cidade do Rio de Janeiro, a 400 quilômetros de distância. Alexandre Azevedo, oceanógrafo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, auxiliou na comparação das fotografias e confirmou que os animais eram os mesmos. Depois de cada viagem, uma das tarefas dos pesquisadores é analisar as fotos das nadadeiras dorsais, por meio de um programa de computador específico, para encontrar as que provêm de indivíduos novos e reforçar o catálogo no site do laboratório, já com 104 animais de duas espécies de baleias e três de golfinhos, representados por suas nadadeiras únicas.

Há também razões para inquietação: em consequência da construção de portos e do aumento do número de embarcações e da poluição crescente na costa, os cetáceos podem estar se afastando da costa e procurando áreas mais calmas. Giovanna Figueiredo, da equipe de Santos, verificou que os registros de avistagem da baleia-franca-austral (Eubalaena australis), com até 18 metros de comprimento e 60 toneladas, antes comuns nas praias mais próximas da costa do Sudeste, escassearam desde 2002, mesmo que a população estivesse aumentando, com o fim da caça. Em uma das viagens, a equipe da USP avistou uma baleia-franca com um filhote na Ilha da Queimada Grande, a 27 quilômetros da costa. Karina Groch e outros biólogos do Projeto Baleia-franca estão atentos sobre os possíveis efeitos da construção do porto de Imbituba, em Santa Catarina, e do aumento do tráfego de embarcações na região, antes um centro regional de caça à baleia-franca. Em 2005, Karina estimou em 500 o número de baleias-francas que visitam regularmente a costa brasileira, das quais 100 se abrigam no litoral sul, principalmente no período reprodutivo, de julho a novembro.

“Estamos afastando as baleias e os golfinhos, por um conjunto de causas, com efeitos cumulativos”, reitera Siciliano, que publicou vários artigos nos últimos anos indicando a contaminação por metais pesados e outras substâncias tóxicas, que devem favorecer, em golfinhos, as deformações ósseas, que ele próprio registrou, e as doenças de pele, que Santos descreveu em 2009. “É uma pena, porque as populações estão se refazendo e os cetáceos estão buscando as baías que ocupavam antes, mas as encontram transformadas em estacionamento de navios e depósito de esgoto.”

Siciliano foi um dos pesquisadores que participaram da elaboração do plano de ação para conservação da toninha, uma espécie que vive na faixa costeira e apresenta alta mortalidade ao se prender em redes de pescadores (Santos está examinando com pescadores de Cananeia as formas possíveis de reduzir a mortalidade de toninhas). Aprovado e publicado em 2010, o plano de ação previa a criação de dois parques nacionais (em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul) e a ampliação de outro, atualmente apenas com restinga, no litoral norte do estado do Rio, de modo a se limitar um espaço adequado para toninhas, tubarões, raias, tartarugas e outros animais marinhos. Siciliano, ao comentar que os parques ainda não foram criados, lembrou-se da resistência para a proibição da pesca e a transformação em parque nacional de uma área cobiçada para a construção de portos. Em uma das reuniões sobre a criação das unidades de conservação marinhas, ele se lembrou, um dirigente de um órgão público ambiental perguntou aos pesquisadores: “Afinal, para que serve uma toninha?”. Em uma peça do teatrólogo Bertolt Brecht, um cardeal fez uma pergunta parecida enquanto se recusava a ver pelo telescópio de Galileu: “Serão as estrelas realmente necessárias?”.

Projetos
1. Ocorrência, distribuição e movimentos de cetáceos na costa do estado de São Paulo (nº 11/51543-9); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular/Biota; Pesquisador responsável Marcos César de Oliveira Santos – IO/USP; Investimento R$ 454.775,03 (FAPESP).
2. Capturas acidentais de pequenos cetáceos em atividades pesqueiras no litoral sul paulista: buscando subsídios para formulação de políticas de conservação (nº 10/51323-6); Modalidade Parceria para Inovação Tecnológica (Pite); Pesquisador responsável Marcos César de Oliveira Santos – IO/USP. Investimento R$ 242.490,33 (FAPESP).

Artigos científicos
CABALLERO, S. et al. Initial description of the phylogeography, population structure and genetic diversity of Atlantic spotted dolphins from Brazil and the Caribbean, inferred from analyses of mitochondrial and nuclear DNA. Biochemical Systematics and Ecology. v. 48, p. 263-70. 2013.
SANTOS, M.C.O. et al . Cetacean records along São Paulo state coast, Southeastern Brazil. Brazilian Journal of Oceanography. v. 58, n. 2, p. 123-42. 2010.








quarta-feira, 7 de maio de 2014

Informações em quadrinhos III



SHAMU:
"E eu sou a verdadeira Shamu."

"Fui capturada depois que minha mãe foi morta por um arpão e eu me recusei a sair do lado do corpo dela. Fui a primeira Orca a ser capturada com a intenção de ser comercializada."

"Eu tinha apenas 9 anos quando morri de septimia e piometra. Agora, todas as Orcas do SeaWorld são chamadas de Shamu para esconder as outras que morreram."

"Tudo isso começou comigo...
Mas pode chegar ao fim com você."




P.S.: Quadrinho elaborado pelo neozelandês Lee Harrison e divulgado pelo site Deviant Art. Estou publicando as imagens e traduzindo os textos aqui no blog com a devida autorização do autor.


terça-feira, 6 de maio de 2014

Informações em quadrinhos II



NYAR:
“Sou Nyar, um filhote nascido com diversos problemas de saúde. Tinha dificuldades até para nadar sozinho. Morri antes dos 3 anos de idade devido a esses problemas, um mês depois da morte da minha mãe Gudrun.”


TAKU:
“Meu nome é Taku. Me separaram da minha mãe depois de 14 anos juntos quando permitiram que eu a engravidasse. Um ano depois, morri por conta de uma doença transmitida por picada de mosquito.”


KOTAR:
“Sou o Kotar! Fui retirado da natureza com quase um ano de idade. Enquanto brincava com a comporta do tanque, esta caiu sobre minha cabeça, esmagando meu crânio e me matando.”


FILHOTES DA CORKY:
“Somos os sete filhotes da Corky. Mesmo os de nós que nasceram vivos não completaram um ano de idade.”
(viveram em diversos parques)


HALYN:
“Sou a Halyn, a primeira Orca do SeaWorld que teve que ter sido alimentada por humanos depois que minha mãe Kayla me rejeitou no nascimento. Morri de um edema agudo no cérebro causado por uma infecção.”


KANDU 5:
“Sou Kandu 5 e morri depois de ter agredido a Corky no meio de um show. Eu trombei com uma parede e rompi uma artéria da mandíbula. Sangrei por 45 agonizantes minutos até a morte enquanto meu bebê assistia a tudo sem poder fazer nada.”




P.S.: Quadrinho elaborado pelo neozelandês Lee Harrison e divulgado pelo site Deviant Art. Estou publicando as imagens e traduzindo os textos aqui no blog com a devida autorização do autor.


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Informações em quadrinhos I



SPLASH:
"Sou a Splah! Eu tinha epilepsia, bati numa comporta por conta de uma convulsão e quebrei minha mandíbula. O SeaWorld arrancou meus dentes inferiores e eu morri anos depois por conta de uma perfuração no estômago."


KALINA:
"Meu nome é Kalina, fui a primeira Baby Shamu. Me tiraram da minha mãe aos 4 anos de idade e aos 6 engravidei. Todos os meus filhotes foram tirados de mim antes dos 3 anos de idade. Morri de septicemia."


GUDRUN:
"Sou Gudrun! Fui vendida ao SeaWorld pelo Dolfinário de Harderwijk, o mesmo que capturou a Morgan. Acabei morrendo de uma hemorragia interna que durou vários dias depois que treinadores usaram um guincho com manivela para retirarem um bebê morto da minha barriga."


TAIMA:
"Sou Taima e me tornei muito agressiva e imprevisível depois que toda minha família morreu. Morri durante o parto de um filhote morto que ficou preso dentro de mim. Algo parecido com o que ocorreu com a minha mãe Gudrun."


SAMOA:
"Meu nome é Samoa e fui vendida para o SeaWorld pelo Playcenter brasileiro. Eu entrei em trabalho de parto prematuro devido a uma infecção de fungos e me tornei a primeira baleia do SeaWorld a morrer durante o trabalho de parto."


VICTORIA:
"Sou Victoria, o segundo filhote consanguíneo de Kohana e Keto. Fui rejeitada por minha mãe logo após o parto, assim como meu irmão Adan. Era alimentada artificialmente por humanos. Nem cheguei a completar um ano."




P.S.: Quadrinho elaborado pelo neozelandês Lee Harrison e divulgado pelo site Deviant Art. Estou publicando as imagens e traduzindo os textos aqui no blog com a devida autorização do autor.


domingo, 4 de maio de 2014

Imagem que fala por si só

Às vezes uma imagem, mesmo que criada na mente de um artista e representada numa tela, pode transmitir muito, diversas vezes mais do que palavras. O artista Leonard Boekee tem sua inspiração nas Orcas e retrata isso em imagens incríveis. Esta que escolhi se chama "O Reencontro" ("The Reunion") e foi inspirada na história da Orca Morgan, assim como diversas outras que ele criou. É preciso dizer mais alguma coisa?



Conheçam e prestigiem a bela e sensível arte de Leoonard Boekee em sua página na internet: http://lionheartbucket.daportfolio.com/




sábado, 3 de maio de 2014

Kalia está grávida

Fontes confirmam que a Orca Kalia, que vive no SeaWorld de San Diego, está grávida.
A especialista em Orcas, Dra. Ingrid Visser, declarou publicamente sua preocupação com este fato:
"Eles estão engravidando as Orcas cedo demais. Na natureza, uma Orca não teria filhotes antes de, no mínimo 12 anos de idade, e esta Orca tem apenas 8 anos e meio."
Ela também achou estranho o fato desta notícia ter vindo à tona apenas depois de ter ficado claro que o projeto de lei do Deputado Richard Bloom, mesmo que seja sancionado impedindo que Orcas sejam mantidas em cativeiro na Califórnia, isso ocorreria apenas depois de 2015.
"Isso é uma vergonha para o SeaWorld. Eles sabiam da gravidez há um bom tempo, mas foi um visitante que divulgou a informação. Por que eles esconderiam? Porque está claro que sabem que estão fazendo algo errado. Isso é eticamente nojento".
Kalia já foi mencionada algumas vezes por aqui, inclusive quando foi filmada tendo um aparente e triste ataque nervoso. Veja na postagem de junho do ano passado: http://v-pod-orcas.blogspot.com.br/2013/06/o-estresse-em-cativeiro.html



P.S.: A foto da Dra. Ingrid Visser foi obtida na Wikipedia (Jo Berghan).