A vinda de Baleias Francas todos os anos para o litoral de Santa Catarina faz do estado um lugar peculiar durante o inverno e a primavera. As primeiras já foram vistas esta semana nas praias de Imbituba. O litoral sul catarinense é uma importante área de reprodução destes animais, que viajam cerca de seis mil quilômetros das Ilhas Geórgias do Sul para se reproduzirem aqui. Estas praias são sagradas para estes mamíferos, afinal são escolhidas como berçários naturais para seus filhotes passarem os primeiros meses de vida.
Laguna, Imbituba e Garopaba são as preferências destas gigantes para parir, amamentar e ensinarem os filhotes enquanto estão por aqui, entre os meses de julho e novembro. A escolha não é aleatória. A região é repleta de praias com costões, que as protegem contra os ventos fortes e predadores.
Ideais também para acasalamento, pois atualmente além das adultas fêmeas que veem para parir, também são identificados grupos de adultos machos e fêmeas, que buscam a região para reproduzir. “Esses grupos permanecem menos tempo na região. As baleias com filhotes ficam por um período maior”, explica a bióloga Audrey Amorim.
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Fotos: Julio Vicente e Projeto Baleia Franca |
A maioria das baleias que migram para cá são fêmeas, chegam a medir até 18 metros de comprimentos e pesar cerca de 40 toneladas. Já os machos, a minoria no grupo, são um pouco menores.
De acordo com a coordenadora do Projeto Baleia Franca, Karina Kroch, nos últimos doze anos cerca de 113 baleias migraram a cada temporada. “Por isso nossa espectativa em cada ano é de recebermos em torno de 100 indivíduos. No entanto há flutuações naturais na migração delas para as áreas de reprodução, fazendo com que tenhamos números maiores ou menores que estes, como já ocorreu. Já chegamos a registrar quase 200 baleias em duas oportunidades”, ressalta. Na temporada do ano passado foram registradas 65 baleias e o nascimento de 32 filhotes.
Os grupos de baleias que migram para o estado são diferentes todos os anos, mas pode acontecer de algumas serem as mesmas que vieram no ano passado. A média é que a fêmea tenha filhotes a cada três anos, pois a gestação dura cerca de 12 meses. “Sabe-se que as fêmeas costumam ser fiéis a áreas de reprodução, então a mesma fêmea pode voltar para esta região para parir mais de uma vez”, afirma Amorim.
Quando as baleias começaram a migrar para cá?
O primeiro registro oficial do reaparecimento destes mamíferos nas praias do sul do estado foi registrada em 1981, pelo Vice-Almirante Ibsen de Gusmão Câmara, um dos líderes da luta contra a continuidade da caça às baleias no Brasil. Elas tinham sido extintas da região em 1973, devido a caça predatória.
Foi então em 1982 que iniciaram as atividades do Projeto Baleia Franca, que tem como principal objetivo garantir a sobrevivência e a recuperação populacional da Baleia Franca em águas brasileiras.
Baleias aquecem o turismo
Receptivos de turismo e guias especializados se preparam para receber os turistas desta temporada com passeios integrados. Além da avistagem de baleias por terra em pontos fixos, o roteiro oferece também observação de botos que praticam a pesca cooperativa, patrimônio natural de Laguna, e outros pontos turísticos, como o centro histórico tombado pelo Patrimônio Nacional, também em Laguna, os Museu e Centro Nacional de Conservação da Baleia Franca, em Imbituba, além de restaurantes especializados em frutos do mar.
“Os Botos e o centro histórico de Laguna são atrativos que fazem o diferencial e complementam esta rota”, destaca Márcia Godinho, consultora de marketing turístico do Sebrae.
A Associação de Guias da Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca - APABF oferece opções de passeios para um ou dois dias. “Temos parceria com a maioria dos hotéis, pousadas e restaurantes da região”, reforça o guia e responsável pela associação, Júlio Vicente.
Outra oferta para os amantes do ecoturismo são as opções de trilhas para observação. Ao todo são 11 diferentes trilhas em Laguna, Imbituba e Garopaba.
Dos 20 pontos catalogados pelo Projeto Baleia Franca, conhecidos como Baleiometros, 11 oferecem maior probabilidade para avistagem de baleias. De acordo com Vicente, foram 275 avistagens de baleias, em 2015, somente nas Praias da Ribanceira e Itapirubá, em Imbituba, e a Pedra do Frade, em Laguna.
Segundo dados da Associação, os visitantes que mais procuram pelo turismo de observação aqui na região são dos estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Entre os estrangeiros, os alemães são maioria.
Rota da Baleia está sendo criada em parceria com o Sebrae
Há quase um ano o Sebrae, em parceria com o governo estadual e municipal das três cidades, lançou o Projeto de Fortalecimento do Turismo de Observação de Baleias Francas. O trabalho de profissionalização do roteiro está focado na criação da Rota da Baleia, onde o plano de trabalho envolve ações de médio, curto e longo prazo.
Até agora já foram realizados o diagnóstico do roteiro, a construção do Plano Baleia e parcialmente instalados os grupos de trabalho. Em 2016 e 2017 serão implantados o plano operacional e os planos de inovação e melhorias nas empresas, além do acompanhamento e avaliação das ações implantadas.
“Tivemos o cadastro de 80 empresas que aderiram à Rota da Baleia e assinaram um termo de adesão se comprometendo a fazer alguma ação de melhoria e inovação”, salienta Márcia Godinho, consultora do Sebrae, durante o encontro sobre o processo de operacionalização do Plano Baleia realizado nesta quinta-feira, 9, na Associação Comercial e Empresarial de Laguna.
Dicas e cuidados para observação de baleias:
As Baleias Francas começam a chegar no mês de julho e o auge de avistamentos costuma ocorrer em setembro. Para um melhor avistamento por terra, na beira da praia, nos mirantes ou sobre as pedras, recomenda-se o uso de binóculos ou câmera com lente tele-objetiva.
As pessoas precisam ficar atentas aos subir nas pedras para observação, buscar locais secos e protegidos. Não é permitido oferecer alimentos ou atirar objetos na água. Se estiver na água, nadando ou surfando, não é seguro nadar na direção das baleias.
Fonte: Portal SATC de 11 de junho de 2016.